Promover o uso de espaços comuns exige planejamento de atividades, manutenção de equipamentos e consenso de envolvidos
O Síndico profissional Carlos Santos reformou e modernizou academia em para atrair mais moradores para a prática de exercícios. Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Áreas ociosas
Pistas de skate, espaços pets e academias são algumas das áreas comuns de condomínios que, após a entrega das chaves, podem acabar não promovendo a convivência planejada por construtoras e incorporadoras. Para retomar a utilização desses locais, síndicos e moradores devem trabalhar em conjunto para enfrentar o desafio.
O síndico profissional Carlos Santos viveu essa experiência. Em um dos prédios que gerencia, Santos precisou reformar a academia de ginástica do local para estimular os moradores a praticar exercícios físicos. “Por causa dos equipamentos velhos, as pessoas preferiam fazer exercícios em outras academias”, conta.
Além de os aparelhos de ginástica apresentarem problemas com frequência, o síndico diz que havia um número insuficiente de equipamentos. “Hoje, alugamos os aparelhos. A troca, para fazer frente às novas tecnologias disponíveis, fica mais fácil”, diz Santos. Antes da reforma, o espaço contava com quatro equipamentos. Agora são sete de linha profissional.
Um dos grandes motivos para que os espaços fiquem despovoados, segundo Santos, é o estilo de vida dos moradores. “A vida dos condôminos está muito corrida e, por conta disso, eles passam muito pouco tempo no imóvel.” Ele avalia que cabe aos síndicos promover eventos em datas comemorativas e festas para “povoar” os espaços.
Opções
A tática adotada por Santos é uma recomendação do presidente da Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo (Aabic), José Roberto Graiche Júnior, aos gestores. “É importante procurar promover a utilização desses espaços, fazendo eventos e atividades, estimulando os condôminos.”
Graiche Júnior afirma, no entanto, que também é preciso conhecer o perfil dos moradores. Caso não haja compatibilidade de interesses entre condôminos e as áreas comuns do prédio – quando o local não tem utilização porque não há interesse real de quem vive no edifício –, ele aconselha que seja convocada uma assembleia para discutir novo uso para o espaço.
Consenso
A assembleia, porém, deve ser o último recurso, avalia o vice-presidente da Associação dos Síndicos (Assosíndicos), Carlos Theodoro Martins. Antes mesmo de incentivar o uso das áreas por meio de comunicados e eventos, ele afirma que é necessário adotar ações básicas. “Para que os espaços não fiquem vazios, uma boa manutenção é bem-vinda”, diz. “O condomínio precisa deixar os locais prontos para o uso”, afirma. Segundo ele, a ausência de cuidados pode impedir o morador de usufruir da área comum.
Caso a questão vá para a assembleia geral, Martins diz que o assunto deve de ser aprovado de forma unânime. “Todos os moradores compraram o imóvel com determinados espaços”, destaca. Por isso, um condômino que estiver descontente com a decisão, segundo ele, pode entrar na Justiça por desacordo entre o que foi adquirido e a nova destinação para a área comum do edifício.
O diálogo é a melhor forma de chegar a uma conclusão que agrade a todos
O síndico profissional Ricardo Corrêa Claro adotou este método para transformar um grande depósito de entulho de um edifício em um salão de festas que atende mais de cem pessoas por evento. “Todas as ideias e planos foram discutidos e aprovados pelos condôminos.”
Há seis anos como gestor do edifício, Claro conta que, antes da reforma, as reuniões de condomínio eram realizadas ao ar livre. Foi com a criação de comissões e a realização de uma assembleia geral, por meio de um aplicativo, que as medidas foram acertadas para a destinação do espaço.
“No primeiro encontro online, comentei a respeito da nova utilização do espaço e escutei tudo o que eles falavam”, conta. “Pelo aplicativo, os moradores expõem mais suas ideias.”
Com a aprovação de todos, a transformação do depósito em salão de festas se tornou realidade. “Um espaço não pode ficar ocioso”, afirma Claro. “Espaços como um salão de festas valorizam muito o imóvel que você possui”, avalia.
Segundo ele, além dos moradores informarem as mudanças que desejam, o síndico também precisa se aproximar dos condôminos para entender as dificuldades que enfrentam no dia a dia e melhorar a convivência dentro do prédio.
Diferencial competitivo
A busca por um diferencial competitivo no lançamento de projetos é um dos maiores causadores dos espaços ociosos (áreas ociosas), segundo o coordenador do Núcleo de Real Estate da Poli-USP, João da Rocha Lima. “Para chamar a atenção do comprador, as construtoras buscam se diferenciar nas áreas comuns”, ensina.
Ao mesmo tempo, de acordo com Lima, evitar a entrega de espaços pode ser um tiro no pé para empresas do setor. “Oferecer um azulejo diferenciado na cozinha, ao invés de uma piscina, não funciona como estratégia de marketing no setor”, diz.
Análise
A seleção das áreas comuns a serem construídas, segundo ele, são feitas com base na análise dos prédios da redondeza e o poder aquisitivo do público-alvo que se deseja para o imóvel. Como uma solução prática, o professor da especialização em gestão de incorporações e construções imobiliárias da FGV, Paulo Porto, diz que o investimento em espaços flexíveis é uma alternativa.
Segundo Porto, após a construção, não há muito o que ser feito. “Não dá para destruir e fazer algo novo, seria um alto custo para o condomínio”, diz. Então, a reforma desses locais é indicada para criar espaços que possam ter diferentes tipos de uso, tais como sediar eventos e promover esportes.
Fonte: Estadão